Viva o 25 de Abril

Artigo interessantíssimo…

Salgueiro Maia e o Mestre de Avis

Salgueiro Maia e o Mestre de Avis

Em 25 de Abril de 1974, o capitão Salgueiro Maia foi o principal rosto da revolta militar que levou ao derrube das forças afectas ao Estado Novo. Seis séculos antes, em 1383, o Mestre de Avis, futuro rei D. João I, encarnara a vitória do povo e da burguesia contra as intenções expansionistas de Castela apoiadas pela alta nobreza. A comparação entre as duas figuras e os dois momentos-chave da História de Portugal foi objecto de uma recente dissertação académica. Em pré-publicação, a NS’ apresenta excertos de Revolução Social de 1383 e 25 de Abril de 74 – do Putsch à Revolução, de António Sousa Duarte.

Há entre o Mestre de Avis e Salgueiro Maia um traço comum, premonitório, ao qual, mesmo em sede de análise científica, não é possível fechar os olhos e que permite estabelecer clara analogia.

Sobre o primeiro, nascido em 1357 da ligação entre seu pai, D. Pedro, e Teresa Lourenço, aia de Inês de Castro, também mulher do rei, disse uma vez D. Pedro terem-lhe dito um dia que «um seu filho de nome João haveria de montar muito alto e trazer grande honra a Portugal».

Também Salgueiro Maia, no cumprimento de uma comissão de serviço em Moçambique e ainda a cinco longínquos anos do 25 de Abril, confidenciará em certa ocasião alimentar «o sonho de descer um dia a Avenida da Liberdade num carro de combate para derrubar o Estado Novo».

Em 25 de Abril de 1974, Salgueiro Maia foi o principal rosto da revolta militar que levou ao derrube das forças afectas ao Estado Novo. Com o capitão de Cavalaria, marcharam sobre Lisboa cerca de duzentos homens que trocaram o Inverno rigoroso da Escola Prática, em Santarém, pela Primavera de milhões de compatriotas subjugados a um regime totalitário que, enfim, seria derrubado naquela madrugada.

Quase seis séculos antes, D. João I, Mestre de Avis, encarnara a vitória do povo e da burguesia sobre a classe nobre e o clero na defesa da independência de Portugal contra as encobertas intenções expansionistas de Castela e os interesses particulares das chamadas classes altas.

Num e outro momentos históricos ressalta claro o facto de que o povo não está na génese dos movimentos revolucionários que lhes deram origem.

O povo – a «arraia-miúda», os «ventres ao sol», como lhes chamou Fernão Lopes na Crónica de D. João I – só adere verdadeiramente quando os líderes revolucionários das organizações subversivas, seja em 1383 ou 1974, derrubaram o statu quo vigente e estão já na rua. E isso é tão constatável no carácter objectivo das crónicas de jornal dos dias seguintes ao 25 de Abril como no conteúdo da crónica da autoria do extraordinário historiador social que é Fernão Lopes.(…)

( Retirado do Diário de Notícias, onde pode ler integralmente)

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